segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

"Apenas Miúdos", Patti Smith

 

“Apenas Miúdos”, de Patti Smith (livro vencedor do National Book Award), é de uma generosidade e força incomensuráveis.

As biografias nunca estiveram no meu leque de interesses de leitura. No entanto, por gostar muito da música de Patti Smith, tive curiosidade em conhecer melhor o seu percurso de vida.

O livro centra-se na sua história e no relacionamento que manteve com o fotógrafo Robert Mapplethorpe.

Foi no Verão em que morreu o Coltrane. O Verão do “Crystal Ship”. As crianças floridas erguiam ao alto os seus braços vazios e a China fazia rebentar a bomba H. Jimi Hendrix deitou fogo à guitarra dele em Monterey. A rádio de onda médio tocava “Ode to Billie Joe”. Houve motins em Newark, Milwaukee e Detroit. Foi o Verão da Elvira Madigan, o Verão do amor. E nessa atmosfera instável, pouco hospitaleira , um encontro fortuito alterou o rumo da minha vida. Foi o Verão em que conheci o Robert Mapplethorpe.

De uma forma poética e com um humor subtil, Patti Smith leva-nos a dar um passeio pela Nova Iorque dos finais dos anos 60 e início dos anos 70. Conta-nos a história comovente de duas almas gémeas que viveram para a arte, o início das suas carreiras artísticas, marcada pela luta pela sobrevivência, ausência de dinheiro e sede de livros e de arte, seguindo o caminho de Rimbaud, de Jean Genet, entre outros. Uma história repleta das vicissitudes que viveram enquanto traçavam os seus caminhos artísticos, anos de medo e de muitas descobertas. Durante esse passeio “tropeçamos” ainda nos artistas da Factory de Andy Warhol e naqueles que viveram no hotel Chelsea, como Janis Joplin .

Picasso não se enfiou na concha quando o seu adorado País Basco foi bombardeado. Reagiu criando uma obra-prima com a Guernica, para nos recordar as injustiças cometidas contra o povo dele. Quando eu tinha uns dinheiros extra ia até ao Museu de Arte Moderna e sentava-me diante da Guernica, tendo passado muitas horas a meditar no cavalo caído e no olho o bolbo que refulge sobre os tristes despojos da guerra. A seguir regressava ao trabalho.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Os 50 anos de Assírio & Alvim

  No dia 12 de Novembro de 2022, a editora Assírio & Alvim completou cinquenta anos. E isso levou-me a percorrer memórias e a perceber o...