No dia 12 de Novembro de 2022, a editora Assírio & Alvim completou cinquenta anos. E isso levou-me a percorrer memórias e a perceber o quanto ela foi importante na minha descoberta de autores, de livros, de pintores.
Há uns anos descia a Rua Miguel Bombarda, a conhecida rua das galerias no Porto, na expectativa de encontrar livros novos na livraria Assírio & Alvim. O ritual era quase sempre o mesmo, já conhecia de cor aquele espaço. Percorria as estantes, dedilhava nomes, memorizava títulos, trazia os marcadores que estavam pousados nas prateleiras, e buscava A Phala. Esta era uma publicação mensal e gratuita da editora e, para mim, a melhor que alguma editora já realizou. Ao mesmo tempo, esperava religiosamente pela feira dos livros manuseados para trazer um ou outro livro. Foi assim que trouxe o «meu» António Franco Alexandre, com a marca de uma etiqueta velha que foi retirada.
A livraria não era só um espaço onde o lume era o catálogo extraordinário da Assírio, também era a luz de um espaço de encontros e de exposições. (E não bastava um cesto cheio de figos, ainda tínhamos esse melaço todo.) Infelizmente, nunca tive a sorte de me cruzar com Mário Cesariny, nem de ver o fumo do cigarro de Vila-Matas.
O coração da editora Assírio & Avim era o editor e poeta Manuel Hermínio Monteiro, verdadeiramente apaixonado pelo que fazia. Segundo o poeta Manuel António Pina, «os catálogos da Assírio são de alguma forma, um seu bilhete de identidade. Como aquela personagem de Borges que, desenhando ao longo de toda a vida um mapa, e enchendo minuciosamente o papel de rios, cidades, montanhas, impérios, descobre na confusão de manchas, traços, volumes, a imagem do seu próprio rosto, também os livros que o Hermínio editou ao longo da vida desenham (vêmo-lo agora nitidamente) o perfil do seu rosto intelectual e afectivo.»
Manuel Hermínio Monteiro escreveu várias introduções editoriais, notas, comentários na publicação A Phala. No número 4 de Janeiro/Fevereiro de 1987, falava da castração do rio Tâmega, do ambiente (um tema sempre actual): «Agora, nas vésperas do séc XXI, no Ano Internacional do Ambiente e ano comemorativo do centenário do nascimento do Amadeo, uma barragem já construída, pretende transformar esta força anímica e “o vale sagrado de Tâmega” num imenso lençol de águas paradas e chocas. Desaparecerão para sempre os centenários arvoredos, os rochedos, as ínsulas. Os moinhos e as poldras ficarão submersos. A um rio vivo, buliçoso e viril sucederá um lago imóvel de águas lamacentas e silenciosas, semicerrando os olhos dos arcos da ponte de S. Gonçalo, como se a letra M da palavra aMarante fosse substituída por um espesso traço horizontal, tornando-o ilegível.»
Voltando ao meio-século, são muitos os títulos, muitos os livros que demonstram como esta editora abriga o melhor da cultura portuguesa.
Para vocês, quais são os livros marcantes da Assírio & Alvim?